sábado, 28 de janeiro de 2012

Pedaços da minha história

 Era para escrever um post do tamanho do universo, mas depois perdi a paciência e além disso tenho que ir cozinhar o jantar! Portanto, vou directa ao assunto. As pessoas fazem troça de mim porque não sei muito acerca da terra onde moro, sei algumas coisas vá, mas não conheço tudo. Quando falam-me da D. Joaquina Carlota da pastelaria tal e do Senhor Joaquim Afonso que costumava vender jornais na esquina da Praça Não-sei-quantos, da Maria Pega que se enrolava com todos, das famílias Ai-que-somos-os-donos-disto-e-tal, o "Sôdoutor" Casteinheira que curou muitas gripes e operou o Zé da Taberna, eu não faço ideia de quem são! Ou pelo menos, grande parte deles. "Ah, vamos gozar com ela, é tão totó!". Meus caros amigos, eu já mudei de casa três vezes, sim? Só para começar! E "odepois", a minha família nem sequer é de cá? Estamos entendidos?! Isto é uma mistura, nós começamos no norte e foi sempre a descer, até aqui. E alguns ainda foram mais para baixo! E outros para fora! A minha família está espalhada por todo lado, eu devo ter parentes nos cinco continentes quase. Algum dia dá-me na cabeça e vou morar com um urso polar ou um pinguim! Desde cedo aprendi a empacotar e desempacotar a minha vida, logo aos quatro anos. Da última vez, acho que foi a pior de todas elas, a campeã das campeãs. Quem muda imensas vezes de casa sabe que fica-se só com o essencial e não se guarda memórias. Mas das outras vezes, ainda trouxe mais alguma coisa do que o essencial e algumas memórias, "Agora vou ficar aqui de vez", pensei inocentemente. Isto, até ao célebre dia em que a minha mãe aparece com uma carrinha de caixa aberta lá em casa. O que levei? A roupa  essencial, a cama, as coisas da escola e pouco mais. Tudo o resto? Ficou para trás. Tudo o que construímos e coleccionamos durante anos a fio, foi deixado para trás como quem atira um papel para o chão e faz de conta que não é nada consigo. Nesse dia, fiz um re-start na minha memória, fiquei tão traumatizada que instantaneamente apaguei imensas memórias. Um dia tentei lá voltar, "ao nosso apartamento", que agora era só do meu pai. Vazio. A minha avó paterna limpo-o, deitou as minhas memórias ao lixo. "Guardei o que a meu ver era preciso", disse-me, eu só pensava "Idiota! Para que raio quero um caderno sem nada escrito?! Para que raio quero um cobertor? Para que raio quero uma mochila velha?". Só queria gritar "Eu quero é todos os meus trabalhos da pré-escola que deitou ao lixo! Todas as fotografias! Quero os brinquedos que eram meus e dei-os ao meu irmão, que um dia iriam passar para os meus filhos/sobrinhos! Quero as decorações do meu antigo quarto que foram oferecidas pela minha avó! Quero o móvel que construi com a minha mãe! Quero as bonecas de loiça que me ofereceram! Quero tudo!", mas já era tarde de mais, limitei-me a um "Está bem". Nesse dia menti-lhe e disse que tinha que ir já embora, estava com pressa. Cheguei ao carro e o meu mundo desabou. Um dia quando percorri o resto da casa dela, vi. Vi alguns quadros pintados por mim, o tapete de brincar do meu irmão, fotografias. Não tive coragem de pedir nada. Evito ir lá agora, pelo menos enquanto a dor não sarar. Então foi assim que aprendi, que na vida, devemos ter pouca bagagem e as memórias guardam-se no coração, caso contrário, ainda acabam magoados. E muito fica por escrever, mas não quero. E fica aqui, mais um pedaço da história da minha vida. E por estas e por outras, é que tenho receio de familiarizar-me demasiado com o sítio onde moro, é que a minha vida é tudo menos rotineira. Mudança é uma palavra comum na vida. Obra do destino? Não sei. Só sei que já habituei-me a que volta e meia as coisas mudem repentinamente. 

3 comentários:

Unknown disse...

eish.. que mau! mas tens razão, as melhores memórias são as que guardamos no nosso coração.

Ivanova Araújo disse...

Querida, eu entendo-te! Eu já mudei de casa algumas vez e também tenho a família espalhada por quase todos os continentes... Mudar faz bem, sejam elas mudanças boas ou más e pelo que li a tua última mudança foi má. É sempre bom guardar coisa física que nos lembre esse lugar -nem que seja um botão- porque se for uma lembrança boa nos fará sorrir e se for má, nos recordará como evoluímos e crescemos com essas situações/problemas. Muitas vezes as lembranças apenas no coração nos deixam presas ao passado, quando sarares vais conseguir estar na casa do teu pai, sossegada e terás uma nostalgia positiva. E se existir uma próxima mudança - desejo que não aconteça- leva tudo mesmo que fique numa caixa, ajudará no processo ;)

Carlota disse...

Deixa lá, enquanto uns se entopem de objetos, tu ficas com as emoções, sobra mais espaço no coração. *